Tal como os Primeiros Cristãos, e tal como Jesus de Nazaré, a Doutrina Espírita não fica alheia ao sofrimento dos que são atormentados pela obsessão, e mais particularmente pelo estado de subjugação.
Duas definições de obsessão, na interpretação espírita:
"A obsessão é a acção persistente de um Espírito mau sobre uma pessoa. Apresenta características muito diversas, desde a simples influência de ordem moral, sem sinais exteriores perceptíveis, até a completa perturbação do organismo e das faculdades mentais" – (O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 28:81).
"Trata-se do domínio que alguns Espíritos podem adquirir sobre certas pessoas. São sempre os Espíritos inferiores que procuram dominar, pois os bons não exercem nenhum constrangimento. ...Os maus, pelo contrário, agarram-se aos que conseguem prender. Se chegam a dominar alguém, identificam-se com o Espírito da vítima e a conduzem como se faz com uma criança" – (O Livro dos Médiuns, capítulo 28:237).
Não há lugar na nossa filosofia para a crença em demónios, no sentido de "anjos caídos", seres perpetuamente destinados a praticar o mal, irrecuperáveis e indignos de comiseração.
Os obsessores são, na nossa concepção, pessoas como nós, que já viveram na Terra e que por diversos motivos buscam vingança ou agressão gratuita sobre os que ainda estão na jornada terrena.
Sob pena de se desrespeitar os ensinamentos de Jesus, que nos concitou a amar os inimigos, o procedimento espírita em relação aos Espíritos obsessores não é o de os escorraçar. tal como se deve fazer com um agressor encarnado ("vivo"), trata-se de o esclarecer, de o sensibilizar, de o evangelizar.
É esse o primeiro objectivo das reuniões de intercâmbio com o mundo espiritual, que fazem parte integrante das actividades espíritas. O irmão encarnado que sofre os tormentos da obsessão, e o irmão desencarnado que ainda se compraz em actividades de perseguição e vingança, são ambos credores do nosso amor e da nossa compreensão.
Nas reuniões de intercâmbio com o mundo espiritual, os Espíritos obsessores, com a permissão de Deus, podem manifestar-se e dizer de sua justiça. Os médiuns (pessoas dotadas de percepção extra-sensorial), que no âmbito espírita trabalham sempre gratuitamente e de forma disciplinada, são como que os intérpretes dos Espíritos e os medianeiros entre dois mundos.
No Novo Testamento podemos encontrar relatos dos Primeiros Cristãos, que "profetizavam" e "falavam em Línguas". O Apóstolo Paulo aconselhava a que não se acreditasse em todos os Espíritos, mas que se verificasse se "eram de Deus". Estas actividades e estas precauções inserem-se na nossa óptica, no intercâmbio com o mundo dos Espíritos, o mesmo se podendo dizer das repreensões de Jesus aos maus Espíritos e do expulsar dos demónios.
A palavra "daimon", que aparece nas primeiras traduções bíblicas, é uma palavra Grega que significa "espírito". Na época o termo "demónio" não tinha a conotação negativa que foi ganhando com o tempo.